A iniciativa de mobilizar funcionários e moradores da comunidade para uma encenação cultural dentro de do Hospital Otávio de Freitas, localizado em Tejipió, deu tão certo que o elenco dobrou e ganhou mais um cenário para a apresentação do espetáculo da Paixão de Cristo deste ano. De quinta a domingo, 120 pessoas entre figurantes e atores principais se apresentaram no pátio externo do HOF. As encenações aconteceram no ínicio da noite, com entrada aberta ao público. O evento faz parte do calendário dos moradores que vivem em torno do hospital. No ano passado, a Paixão de Cristo do HOF reuniu três mil pessoas nos quatro dias de espetáculo. Este ano o público chegou a cinco mil pessoas.

A produção inclui falas gravadas em estúdio, iluminação especial e segurança garantida para os espectadores. O número de cenários subiu de três para quatro. Ao lado da Santa Ceia, do Templo de Herodes e do Templo de Pilatos, o Auto do Calvário é o novo cenário deste ano. Um investimento de R$ 25 mil que foi possível graças ao apoio da Fundarpe e da iniciativa privada.

A iniciativa é do Grupo de Trabalho Humanizador do hospital, que coordena ações dentro do Otávio de Freitas procurando promover a qualidade do atendimento oferecido aos pacientes, acompanhantes e funcionários.

Com uma área de 87 mil metros quadrados, o HOF é a maior unidade de saúde em extensão da rede pública, o que permite a realização do evento em uma área ao ar livre e isolada do prédio da emergência. O Otávio de Freitas é referência em tuberculose, traumatologia, urologia, psiquiatria e clínica médica. Diariamente, cerca de mil pessoas são atendidas no hospital nos serviços de ambulatório e de emergência.

Espetáculo aproxima funcionários e usuários do hospital

Lado a lado, usuários e profissionais de uma das maiores emergências da rede estadual têm a oportunidade de se conhecerem, interagirem e de vivenciar a oportunidade de encenar o maior drama da humanidade. Pessoas anônimas que, ao entrarem nos cenários, vestidas de suas personagens, conseguem arrancar lágrimas e aplausos emocionados de adultos, idosos, jovens e crianças que assistem ao espetáculo.

O sucesso do projeto é reconhecido antes mesmo dos aplausos do público. A iniciativa do Grupo de Trabalho Humanizador já teve o seu objetivo alcançado. "Conseguimos aproximar a unidade de saúde de sua comunidade, trazendo os moradores que vivem em torno do hospital para participar da encenação e tornamos o espetáculo parte do calendário da Semana Santa dessa população", comemora Albertino Neto, coordenador do GTH e diretor de produção do teatro. Durante dois meses, juntos, eles construíram os cenários e elaboraram o figurino.

A professora Rosângela Barreto é moradora do bairro do Totó e ao lado da amiga e também costureira, Wilma Araújo, está, desde o ano passado, responsável pelo figurino do elenco. A sala de jantar da casa de Rosângela se transformou em uma oficina de trabalho. Tecidos e acessórios estão amontoados pelos móveis e a máquina de costura ganhou espaço no ambiente. As duas estão confeccionando mais de 120 fantasias. As peças requerem detalhes aplicados à mão, como pedraria e bordados. Nos últimos dias, o trabalho entrou pela madrugada, mas nem o cansaço tira o prazer das duas colaboradoras. "Sempre gostei muito de cultura, costumo trabalhar com a arte na sala de aula. A cada espetáculo eu me emociono ao saber que contribuí para isso", declara Rosângela.

A professora também tem um motivo a mais para vibrar a cada cena. A filha Heryka, de dez anos, e o marido, Paulo Nunes, participam da peça. A criança faz o papel de anjo e o marido interpreta o personagem Caifás, um dos que leva Jesus a Pilatos para julgamento. Paulo Nunes além de professor é músico e participa do elenco pelo segundo ano. "Os vizinhos, alunos, comerciantes do bairro e até os taxistas que fazem ponto aqui perto me paravam na rua para perguntar se haveria espetáculo este ano. É muito gratificante ver o interesse das pessoas", comemora Nunes.