Passeio terapêutico, com dois pacientes que tiveram AVC, buscou quebrar a rotina e melhorar a qualidade de vida dos usuários do SUS. Experiência anterior foi transformada em trabalho científico aprovado para Congresso neste mês
A assistência ao paciente no Hospital Pelópidas Silveira (HPS), primeira unidade com foco exclusivo no atendimento de cardiologia, neurocirurgia e neurologia do SUS no Brasil, vai além do prédio localizado no bairro do Curado, no Recife. A unidade também possui o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), que, por meio de uma equipe interdisciplinar, dá continuidade ao atendimento do usuário com doenças crônicas na sua própria casa. Na verdade, não só na residência, já que os profissionais também buscam atender os desejos e mudar a rotina para ajudar na qualidade de vida e, principalmente, no processo de recuperação do paciente.
Prova disso é que, na última sexta-feira (8/11), dois pacientes foram à praia de Boa Viagem, na zona sul do Recife, assistidos pela equipe do SAD e com o apoio do Projeto Praia sem Barreiras. Participaram desse lazer inclusivo José Amaro da Costa, de 58 anos, morador de Joana Bezerra, no Recife; e Josinaldo Constantino, 63 anos, residente em Tabatinga, Camaragibe. A atividade incluiu translado dos pacientes com suas acompanhantes, café da manhã com direito a caldinho e frutas, banho de mar, banho de sol e socialização. Tudo supervisionado pelo olhar dos profissionais do SAD.
Ambos os pacientes foram atendidos no Pelópidas Silveira entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, vítimas de acidente vascular cerebral (AVC), doença que tem um protocolo específico para agilizar as etapas da assistência e, assim, diminuir a possibilidade de sequelas. Logo após a alta hospitalar, foram realizados os trâmites para a assistência domiciliar. Hoje, José e Josinaldo estão em fase de reabilitação das sequelas neurológicas provocadas pelo AVC e possuem dificuldades motoras.
Durante o passeio terapêutico, José Amaro foi o que quis passar mais tempo à beira do mar, acomodado em uma cadeira de rodas que não afunda e é resistente à água salgada. “Eu achei bom demais (o passeio). Vai ficar na história isso aqui, não vai?”, perguntou à equipe do SAD. Josinaldo, mais calado, também aproveitou o momento e, na saída da água, ainda deu uns passos pela areia acompanhado da irmã, Neide Mendonça, e supervisionado pela fisioterapia do SAD.
“O passeio terapêutico é uma alternativa para tirar o paciente da rotina e proporcionar qualidade de vida, impactando na saúde física e emocional. Durante o passeio, nossa equipe dá todo o suporte necessário para que eles aproveitem o momento com segurança. Essa ainda é uma forma de fortalecer o vínculo com os familiares, que também vivenciam o processo da doença, e com os próprios profissionais, reduzindo o estresse, a ansiedade e melhorando o humor e o bem-estar geral”, afirmou a médica paliativista Alessandra Macêdo, que atua no SAD do Pelópidas Silveira.
No SAD, o paciente recebe a assistência de uma equipe interdisciplinar formada por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, assistente social fonoaudióloga e nutricionista. “A gente sabe que o processo de recuperação exige dedicação e adesão do paciente ao tratamento. O SAD, de forma interdisciplinar, cria plano terapêutico para cada usuário e sempre está atento para atender demandas que ajudem nesse processo. Para alguns, poder sair da cama e fazer uma refeição diferente à mesa já é motivo de alegria. Nossa equipe está atenta para promover esses momentos de humanização da assistência, planejando tudo com a segurança que o quadro de saúde do paciente exige”, pontuou a enfermeira Andressa Marcante.
Congresso: Esse foi o 3º passeio terapêutico com ida à praia de Boa Viagem realizado pela equipe do Serviço de Atenção Domiciliar do HPS. Essa experiência, além de impactar positivamente na vida dos pacientes, foi transformada em trabalho científico, aprovado para participação no X Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos, que acontece nesta semana, de 13 a 16 de novembro, em Fortaleza, no Ceará.
“Essa prática tem sido cada vez mais reconhecida nos serviços de saúde como uma ferramenta essencial no cuidado humanizado, além de promover relações mais próximas entre pacientes, equipes de saúde e cuidadores. Os passeios também permitem a exposição a diferentes estímulos sensoriais e uma mudança no ambiente, afastando os pacientes do confinamento residencial. No cuidado paliativo, essa abordagem desafia a visão hegemônica de cuidados limitados ao fim da vida e ao ambiente do leito, enfatizando intervenções que promovem a qualidade de vida e o bem-estar emocional, independentemente do estágio da doença”, descreveu a médica Alessandra Macêdo e a equipe no trabalho aprovado para o Congresso, assinado também por Marcos Sousa, Andressa Marcante, Mariana Galdino, Camila Valeriano e Aline Santos, que integram a equipe interdisciplinar do SAD HPS, além do corpo técnico da Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH), que gere a unidade hospitalar.