O pé torto congênito é uma das deformidades musculoesqueléticas mais comuns ao nascimento, afetando cerca de 1 a 2 por 1.000 nascidos vivos no mundo. A inadequação ou ausência do tratamento provoca sérias limitações aos portadores desta condição. O tratamento da deformidade deve ser iniciado o mais precoce possível após o nascimento para garantir melhores resultados. Recentemente, contudo, uma mulher de 40 anos, com quadro de pé torto congênito negligenciado, passou por tratamento de correção da deformidade pelo Método Ponseti, no Hospital Getúlio Vargas (HGV).

O médico ortopedista responsável pelo procedimento, Júlio Lima, explica que o método Ponseti consiste na “colocação de gessos seriados semanais e, em 95% dos casos, é complementado com uma cirurgia de alongamento do tendão calcâneo (também conhecido como tendão de Aquiles) e posterior uso de órtese por um período”.  Os gessos são colocados pelo médico ortopedista, auxiliado por técnico em gesso habilitado na técnica.

“Antes de iniciar o tratamento, informamos à paciente todas as etapas do processo e, neste caso, a paciente optou por fazer um pé por vez, pois não tinha condições de ficar o período em cadeira de rodas. Realizamos Raio-X com frequência para acompanhar o caso, inclusive antes e depois da cirurgia, e mantivemos a motivação dela no período das trocas de gessos semanais para garantir o sucesso do procedimento”, explica o médico.

Após o tratamento, o paciente passa a ter uma nova realidade de vida. “Com os pés plantígrados, a pessoa não sente mais dores, consegue calçar sandálias e sapatos. Ela sai da condição de pessoa com deficiência e melhora, substancialmente, a qualidade de vida. Além da melhora da capacidade física, podendo percorrer médias e longas distâncias, correr, subir e descer escadas com agilidade, também existe a da melhora da autoestima”, afirma Júlio Lima.

Para Edna dos Santos, paciente tratada no HGV, o esforço valeu a pena. "O tratamento é intenso, mas quando vemos o resultado é gratificante. Agora estou fazendo fisioterapia e me preparando para fazer o tratamento no outro pé", afirma.

O HGV possui uma Clínica de Referência para Tratamento do Pé Torto Congênito da Ortopedia Pediátrica.  Outros casos de tratamento de pé torto em adolescentes e adultos já foram realizados pela equipe da clínica especializada.  Além da equipe médica, é fundamental que os pacientes contem com suporte de assistente social, psicólogo e equipe de enfermagem.

Nos últimos cinco anos, 423 pacientes com a deformidade do pé torto foram tratados no hospital e continuam em acompanhamento clínico. Atualmente, 42 pacientes estão realizando a etapa dos gessos e aguardando o momento da cirurgia, e 33 outras pessoas aguardam o inicio do tratamento.