Diante de um auditório lotado, o psiquiatra Carlos Gustavo Arribas, da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) e do CAPS René Ribeiro, do Recife, falou por quase duas horas para funcionários do Hospital Miguel Arraes sobre avaliação e manejo de pacientes que deram entrada por tentativa de suicídio ou apresentam ideação suicida.

A palestra encerrou a programação do Setembro Amarelo, promovida pelo Serviço Social e serviço de Psicologia, e também contou com a presença da enfermeira Thássia Azevedo, gerente do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do HMA.

Arribas falou sobre o impacto do suicídio no Brasil, país com a oitava maior taxa do mundo. De cada 100 habitantes, 17 pensam em se matar, 5 planejam, 3 tentam e um consegue. Entre os anos de 2000 e 2012, o número aumentou em 10,4% de uma forma geral, mas entre os jovens a taxa subiu 30%. “O número pode ser maior por conta das subnotificações. As pessoas estão cada vez mais sufocadas e isso as leva para uma saída trágica”.

O psiquiatra Carlos Arribas também mostrou como identificar o paciente suicida, apontando como principais fatores de risco a depressão, a dependência química, o transtorno de personalidade e a esquizofrenia. 40% dos suicidas possuem depressão, caracterizada não só pela tristeza profunda, mas por um conjunto de sintomas que passa pela alteração de humor, perda de interesse pelas atividades corriqueiras, choro fácil, até a perda de peso e de apetite, e sintomas cognitivos, como desatenção, falta de concentração e ansiedade.

Para ele, “é preciso estimular atividades que proporcionem prazer a esse indivíduo, como música, atividades físicas e manuais, por exemplo, e que tirem dele o foco suicida”.

Dirigindo-se especificamente aos funcionários do hospital, o especialista alertou para o “pacientes 3Ds”, aqueles que apresentam desesperança, desamparo e desespero, esses podem querer e tentar se matar. E chamou atenção para as mulheres grávidas: “todos os transtornos mentais pioram na gravidez. Isso por vários fatores (psicológicos, sociais) que tornam o problema mais acentuado, levando a mulher à tentativa de suicídio”.

Antes de finalizar sua palestra, Carlos Arribas mostrou algumas perguntas que podem constar da avaliação do profissional, para detectar o paciente que possui alguma ideação suicida. Dentre os questionamentos, se ele tem planos para o futuro e se a morte seria bem-vinda, caso chegasse. Para o especialista, é preciso tocar no assunto e não colocar “panos quentes”, para que os números de suicídio não aumentem.

A enfermeira Thássia Azevedo, gerente do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do HMA, encerrou o evento, falando justamente sobre as notificações realizadas no hospital. A maioria dos pacientes que deu entrada no HMA, por tentativa de suicídio, já o fez duas ou três vezes. Ela informou da necessidade de otimizar a entrada desse paciente: “é preciso que haja comunicação entre os setores para que possamos sair dos subregistros e contribuir com as políticas públicas de saúde”.