Aprendemos ao longo do tempo que esperar faz parte da nossa vida. Esperamos na fila do banco, aguardamos o ônibus chegar, ficamos à espera do namorado atrasado. Nos habituamos a esperar, sem maiores transtornos. Só que a espera também poder ter um outro lado bem mais negativo. Hoje, no Estado, mais de sete mil pessoas aguardam uma doação de órgãos. Não faltam doadores potenciais, mas muita gente ainda ignora a importância do ato.

Para diminuir a fila e o tempo de espera dos que aguardam um órgão, a Central de Transplantes de Pernambuco promove neste mês uma série de ações educativas e operacionais que deverão estimular a doação no Estado. A primeira iniciativa é a criação da Central de Transplantes de Caruaru, que vai operar dentro do Hospital Regional do Agreste, a partir de hoje (08/06). A unidade foi inaugurada pelo secretário estadual de Saúde, Jorge Gomes, e pela coordenadora da Central de Transplantes, Cristina Menezes.

Uma das principais ações a serem desenvolvidas será o estímulo para a formação das comissões intra-hospitalares nas unidades públicas e privadas da região. São as comissões que fazem a busca do órgão dentro da unidade, abordam a família e viabilizam a doação. A macro-regional de Caruaru, onde será instalada a unidade da Central, abrange 36 municípios, totalizando mais de um milhão de habitantes. A cidade já dispõe de uma boa estrutura hospitalar, com neurologista, equipe de transplantes e método gráfico para fazer a avaliação da morte encefálica.

Paralelamente à inauguração da Central, também será realizado em Caruaru o Nordeste Transplante 2007, um evento voltado para a discussão de soluções para os problemas da atividade transplantadora na região. Promovido pela Casa de Saúde Santa Efigênia, de Caruaru, o encontro começou ontem (7) e prossegue até sábado (9), no Hotel Village de Caruaru.

O evento tem o apoio da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Central de Transplantes e Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

MOBILIZAÇÃO - A desinformação é a principal dificuldade para cobrir a lista de espera em Pernambuco. Do lado dos parentes de falecido com potencial para ser doador, há o receio de que o paciente não esteja efetivamente morto e de que a lista de espera não seja cumprida. Do lado dos profissionais, nem todos estão devidamente informados para explicar de forma clara e objetiva o procedimento para diagnóstico de morte cerebral. Esses pontos serão esclarecidos na campanha, que contará com distribuição de material informativo para a população, culto ecumênico e capacitação de profissionais.

Vale lembrar que nos primeiros meses do ano, a Central de Transplantes de Pernambuco contabilizou uma redução de quase 40% no número de procedimentos, em relação ao mesmo período de 2006. Os pacientes que esperam doação de fígado estão em situação mais crítica: no primeiro trimestre do ano passado, foram realizados 19 transplantes, enquanto em 2007 ocorreram apenas duas doações. Já os transplantes de córnea tiveram redução de 56%.

ESTATÍSTICAS - Segundo levantamento da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, apenas seis em cada um milhão de pessoas doou órgãos no País no ano passado. Em 2005, o índice nacional era de 6,3 doadores por milhão de pessoas, enquanto em 2004, foi de 7,2. E a lista de espera conta com cerca de 64 mil pacientes.