Para enfrentar a rejeição e o preconceito em torno dos transplantes, é necessário um trabalho incansável de convencimento dos familiares, de capacitação de profissionais de saúde e vigilância durante 24 horas para, a qualquer momento, partir em busca de uma captação de órgãos. No último domingo (19/08), a possibilidade de uma doação estava no presídio Aníbal Bruno, para onde se deslocou imediatamente uma equipe da Central de Transplantes de Pernambuco. Na maior unidade prisional da América Latina, os funcionários da central convenceram o detento Adelson Francisco Silva a autorizar a doação dos órgãos de sua mãe, Carmem Célia da Silva, com quadro de morte encefálica no Hospital da Restauração.

O gesto de nobreza do de Adelson Francisco, preso desde fevereiro por acusação de assalto, dará a alguém o sentido da visão. Além da saudade e lembrança, Carmem deixou suas córneas. A intenção era aproveitar todos os seus órgãos, mas, ao ser transferida para o bloco cirúrgico para a captação, ela teve uma parada cardíaca, o que inviabilizou a doação do coração, fígado e rins.

Antes do transplante, as córneas passam por duas avaliações, durante um período de 48 horas. Só após a checagem completa, as córneas de Carmem poderão ser doadas, o que deve acontecer até esta quarta-feira. Com isso, uma das 3.786 pessoas de todo o Estado que aguardam um procedimento deste tipo sairá da fila, graças à atitude de Adelson, que não deixou a dor da perda interferir na sua decisão. Atualmente, mais de 7 mil pacientes esperam em sacrifício por um órgão em Pernambuco.