Os hospitais psiquiátricos do Estado caíram no último 15/02, pela manhã, na mágica folia do Carnaval. Além de ajudar no tratamento dos usuários das unidades, o Bloco da Folia, do Hospital Ulysses Pernambucano, arrastou mais de 300 pessoas pelas ruas do bairro da Tamarineira, zona norte do Recife.

Foram cerca de 60 usuários que deixaram as dependências do Ulysses Pernambucano, ao som de uma frevioca animada pelos artistas Nono Germano e Dário Santos e acompanhados pelo grupo Cordas e Retalhos. Com uma tradição de 27 anos de existência, o Bloco da Folia percorreu um trajeto de aproximadamente 2 km, agregando transeuntes, crianças e idosos.

“Trabalhamos na perspectiva de recuperar o que há de saudável nos pacientes. Além de ser a festa da insanidade, o carnaval é um evento de muita força e expressão e, na nossa perspectiva, a festa nos ajuda a inserir os pacientes na sociedade”, afirmou a psicóloga da unidade, Benvinda Magalhães, que no momento trajava uma fantasia de Havaina.

Já a “Palhaça Vitória”, ou melhor, a usuária Nadja Monteiro Alves, 54 anos, era uma das mais animadas durante o trajeto. “Nasci e me criei aqui. O frevo está nas minhas veias. Eu adoro isso aqui”, contou a usuária, ao som das músicas populares tocadas durante a prévia carnavalesca, que homenageou esse ano a atriz Diva Pacheco.

Assim como a “Palhaça”, os outros usuários do Ulysses Pernambucano confeccionaram suas fantasias e alegorias (como bonecos gigantes, máscaras e fitas decorativas) que enfeitaram a avenida Norte e Rosa e Silva. Enquanto o frevo contagiava os foliões, moradores da região acenavam nas varandas dos apartamentos, ao passo que trabalhadores da construção civil batiam palmas pela passagem do Bloco. E pequenas crianças, acompanhadas dos pais, vertiam queridos sorrisos de admiração.

Dentro desse redemoinho de alegria, a moradora Verônica Freitas Neves disse que acompanha o Bloco da Folia desde o seu surgimento. “Eu venho aqui em busca de diversão, mas acabo percebendo que damos em troca aos pacientes um pouco de alegria”, ressaltou. O Ulysses Pernambucano enviou convites a clínicas de psiquiatria, Centros de Atenção Psicossocial e demais órgão psiquiátricos da região, que também se unirão ao Bloco da Folia.

Alcides Codeceira - No Hospital Alcides Codeceira a festa não desfilou na rua, mas a alegria não deixou nada a desejar. O Bloco da Virada, que há 40 anos faz o Carnaval da instituição, contagiou pacientes, funcionários e familiares. A festa, que foi comandada por uma orquestra de frevo, contou, ainda, com a presença de pacientes do hospital Jayme da Fonte e do Hospital da Mirueira.

Em uma festa dominada por reis, espanholas, havaianas e colombinas, não poderia faltar nada. E não faltou. Frevo, confetes, serpentinas, sorrisos e apitos fizeram do Carnaval do Alcides Codeceira o melhor do mundo. Neste ano de 2007, o cortejo dos internos da unidade diminuiu seu percurso. Dessa vez, a agremiação não saiu dos muros do Hospital. “Resolvemos não ir pras ruas este ano, por que não queremos cansar as pacientes, muitas delas já são idosas e não agüentam a caminhada”, explicou a terapeuta ocupacional Divany Paez da Silva. Mas a mudança no trajeto não pareceu diminuir a emoção da festa. “É só olhar para os sorrisos delas e ver a emoção que a festa causa”, explicou Divany.

Assim como no Hospital Ulysses Pernambucano, as pacientes do Alcides Codeceira também confeccionam seus próprios vestidos. Uma emoção à mais para essas foliãs de carteirinha. “Elas adoram confeccionar as fantasias, adoram usar roupas, que sabem que foram confeccionadas por elas próprias”, concluiu Divany.

Atualmente, o hospital Alcides Codeceira abriga 114 portadoras de doenças mentais de longa permanência. Grande parte delas são órfãs ou foram abandonadas pela família.