Às vezes, uma unidade de saúde, local freqüentemente austero e taciturno, se transforma com simples atos, simples gestos. Na manhã da última sexta-feira (28/06), o estacionamento dos funcionários do Hospital Geral de Areias, localizado no bairro da Estância, zona oeste do Recife, foi palco de uma das festas juninas mais “arretadas” da cidade. Os 480 integrantes do Programa de Atenção ao Idoso, todos convidados da festança, foram as provas vivas de que a diversão, além de proporcionar alegria, faz bem – e muito bem – à saúde.

A música era o combustível para os sorrisos dos idosos, que dançavam, lado a lado, ao som de ritmos genuinamente nordestinos, como o forró, xaxado e baião. Sob um toldo branco, eles rodopiavam, devidamente caracterizados, e formavam um redemoinho de chapéus de palha, vestidos coloridos e camisas xadrezes. Nas raras vezes em que se cansavam – sem nenhum eufemismo –, os idosos podiam sentar-se nas cadeiras espalhadas pelo local.

“A gente está aqui batendo um papo”, conta o aposentado Antonio Correia da Silva, 75 anos, sentado em uma das cadeiras e conversando com o seu colega Maurílio da Silva Cruz, 65 anos, ambos integrantes do PAI. “Mas o que gostamos mesmo é de dançar, pois, além de me divertir, a gente ganha saúde”, diz seu Antonio, contente. “Todo mundo aqui é amigo. E esse clima saudável parece que nos dá mais vontade de viver”, frisou seu Maurílio. Neste momento, apareceram as parceiras dos dois senhores, que, todos juntos, resolveram dançar, acabando com a entrevista.

Toda caracterizada e suada de tanto dançar, a aposentada Fátima Monteiro, 62 anos, era uma das mais animadas na festa. “Não é em todo lugar que você tem algo assim para os idosos”, falou. “Aqui, todos nós encontramos respeito, cuidado, amor, coisas que algumas pessoas não possuem nem mesmo em suas casas”. Mas, se houvesse um prêmio para a melhor fantasia, este certamente teria sido entregue a dona Anatamísia de Lima, 79 anos.

Usando botas de couro, chapéu de cangaceiro, com direito a espingarda nas costas, a “maria-bonita” disse que veio à festa para se divertir e para fazer as outras pessoas se divertirem. “É assim que cantava e dançava os cabras de lampião. É que me criei na pisada de lampião”, cantava dona Anatamísia, enquanto ensinava aos presentes alguns passos de xaxado. Depois, os convidados apresentaram uma quadrilha, composta por dez casais que ensaiaram com afinco nas três últimas semanas.

O resultado de toda essa animação, para os idosos, é uma melhora na qualidade de vida e uma mudança positiva do ambiente hospitalar. “Com toda essa auto-estima, eles acabam esquecendo que são pacientes. Todos têm problemas de saúde, mas aqui, nesse momento, eles estão vivendo com mais vontade e diminuindo a oportunidade de ficar doente”, explicou Célia Nóbrega, coordenadora do PAI.

PAI – O Programa de Atenção ao Idoso, desenvolvido pelo Hospital Geral de Areias, completa, em 2007, 16 anos de sua fundação. E atualmente, conta com 480 pacientes cadastrados. Com idades entre 60 e 100 anos, a maioria mulheres, todos participam de atividades e oficinas culturais desenvolvidas pelo programa em prol do desenvolvimento de uma velhice de melhor qualidade.

São oficinas de artesanato, pintura em vidro, crochê e de flores pet (feitas com garrafas plásticas), além de turmas de xadrez, dança, coral, pastoril e reflexologia, massagem aplicada nos pés. A educação também faz parte dos trabalhos desenvolvidos pelo programa. E, para aqueles que não tiveram a oportunidade de estudar, o PAI desenvolve também aulas de alfabetização, comportando 20 alunos por turma.