Um esforço conjunto que começa na porta do hospital e só termina quando se vê a possibilidade de um transplante salvar vidas. Mesmo perdendo uma. Esse é o compromisso diário dos profissionais da CIHDOTT – Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, que atuam nas unidades de saúde do estado de Pernambuco. No Hospital Miguel Arraes (HMA/FGH), em Paulista, Região Metropolitana do Recife, esse trabalho de sensibilização junto a familiares de pacientes críticos fez com que a unidade chegasse a este segundo semestre na nona colocação em número de captações de córneas no estado, dentre hospitais que fazem essa notificação junto à Secretaria Estadual de Saúde (SES/PE).

 Uma média de 70 óbitos são registrados, por mês, no HMA. A maioria, porém, são de pacientes com contraindicação médica para captação de órgãos e tecidos (sepse, portadores de doenças como HIV, tuberculose, tumores metastáticos ou leptospirose) ou fora da faixa etária viável, que é entre 5 e 75 anos. Com isso, no ano passado, apenas cerca de 20% das mortes encefálicas foram possíveis para doação de órgãos, com o registro de apenas quatro doações de córneas. Já este ano, só nos meses de abril e maio, a unidade conseguiu captar sete córneas.

"É um trabalho de formiguinha, diário, constante, junto a pessoas que já se encontram fragilizadas pela perda de um ente querido. Nosso maior desafio é vencer a negativa familiar e tornar a doação de órgãos uma realidade”, explica o enfermeiro Lucas Stterphann, gerente da CIHDOTT/HMA. Nesse momento difícil pelo qual a família atravessa, o acolhimento começa na entrada do paciente na unidade, quando são repassadas informações claras, precisas e objetivas sobre o processo de doação, com a intenção de quebrar a resistência dos parentes e obter sucesso na autorização para captação do órgão ou do tecido. 

Entre tantas negativas, a equipe conseguiu comemorar hoje (06) a doação dos rins de um paciente de 48 anos, que foi a óbito por um edema cerebral. É a primeira captação de órgão sólido do ano, no HMA. “Quando isso acontece, a gente ganha novas forças para continuar nossa tarefa de conscientização diária no intuito de reduzir a fila de espera por transplantes no estado”, destaca Lucas. Para possibilitar que mais doações sejam efetivadas, a CIHDOTT/HMA vai reforçar a equipe e passará a funcionar 24 horas a partir de agosto.