Em Pernambuco, o número de gestações em adolescentes de 10 a 19 anos vem diminuindo nos últimos anos. Para ter uma ideia, em 2008, 22,5% dos nascidos vivos foram de mães adolescentes. Já em 2018, o percentual caiu para 18%, o que corresponde a uma redução de 4,5% ao longo dessa década. No entanto, mesmo com a diminuição, os dados continuam preocupantes. Para marcar a Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência, instituída em 2019 pelo Ministério da Saúde (MS) e celebrada na semana do dia 1º de fevereiro, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) promoveu nesta terça-feira (28.01) um seminário sobre o tema para profissionais da saúde. O encontro aconteceu na sede do órgão, no Bongi, Zona Oeste do Recife, com transmissão por videoconferência para todas as 12 Gerências Regionais de Saúde (Geres). 

Em 2008, dos 145.195 nascidos vivos na rede de saúde, em unidades públicas e privadas, 32.730 foram de mães adolescentes (22,5% do total). Já em 2018, dos 138.257 nascidos vivos, 24.930 eram de adolescentes (18% do total). "A redução de 4,5% deste indicador já é um avanço, visto que esse é um dos indicadores de saúde com muitos entraves para a diminuição. É preciso levar em conta que a gravidez na adolescência envolve múltiplos fatores, como histórico familiar e social, além de questões culturais de uma comunidade. Ainda precisamos avançar bastante nesse cenário", pontua a médica ginecologista e gerente de Atenção à Saúde da Mulher da SES-PE, Letícia Katz.  

A Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019, estabelece a divulgação de informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da gestação nessa faixa etária. Na programação científica desta terça, os debates abordaram desde métodos contraceptivos até o papel da tecnologia no planejamento reprodutivo das famílias. "Os jovens estão iniciando a vida sexual cada vez mais cedo, o que pode contribuir para uma gravidez não planejada, além de infecções sexualmente transmissíveis. Por isso, é importante que os profissionais envolvidos em todas as linhas de cuidados a esse público estejam orientados e capacitados quanto ao cenário, estando preparados para receber possíveis demandas e acolher esses jovens da foram correta", pontua a médica.  

Também na pauta do Seminário promovido pela Secretaria, o consultor Adriano Tavares, da Organização Pan-Americana da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), debateu com os participantes as principais estratégias de qualificação do planejamento reprodutivo. "Todo o cidadão tem direito às ações de planejamento reprodutivo, seja para limitar o número de filhos do casal, seja para ter acesso aos procedimentos que evitem ou controlem as infecções sexualmente transmissíveis. Cabe ao profissional orientar a usuária ou o usuário sobre todos métodos e técnicas disponíveis, garantindo, sempre, a liberdade de escolha ao paciente", explica a médica.  

A programação trouxe, ainda, relatos de mulheres que foram mães na adolescência e discussão sobre o papel do profissional na prevenção e no atendimento à jovem gestante. "As unidades básicas de saúde devem acolher os adolescentes que cheguem ao serviço com suspeita de gravidez e iniciar os procedimentos para confirmar ou descartar a gestação. Se confirmada a gravidez, o pré-natal deve ser iniciado antes da 12ª semana de gestação, o que é essencial para evitar intercorrências na jovem e no bebê", ressalta Katz. Os cuidados em gestantes nessa faixa etária devem ser redobrados, já que a gravidez em idade precoce pode causar problemas de saúde graves, como pré-eclâmpsia e eclâmpsia, além de parto prematuro, bebê de baixo peso ou subnutrido e aumento do risco de depressão pós-parto e de rejeição do filho, trazendo risco de morte do feto e da gestante. A gravidez na adolescência também pode causar conflitos ou comprometimento nos projetos de vida no âmbito familiar, social, educacional e profissional.

É importante lembrar que os meninos nessa faixa etária também devem buscar informações sobre as infecções sexualmente transmissíveis e tirar suas dúvidas sobre os riscos da gravidez na adolescência. "Os meninos também são responsáveis pelos cuidados com a saúde sexual, assim como pela prevenção de uma gravidez ocasional. Por isso, é essencial que eles exerçam seu papel e busquem informações para práticas sexuais seguras", finaliza Letícia Katz. 

COOPERAÇÃO - Buscando qualificar a assistência à saúde na rede materno-infantil, o Governo de Pernambuco assinou, em 2019, um termo de cooperação técnica com a Opas/OMS. O acordo propõe ações descentralizadas, intersetoriais e integradas de governança e estruturação do sistema; vigilância, controle, monitoramento e avaliação; promoção e prevenção; educação permanente e qualificação do trabalho no âmbito da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, com foco na melhoria da rede de atenção obstétrica e neonatal precoce, na agenda de saúde sexual e reprodutiva e na prevenção e controle do câncer do colo do útero, em consonância com as Diretrizes do Plano Estadual de Saúde.

A atuação da OPAS/OMS conta com consultores internacionais e nacionais que estão apoiando os processos de transferência de experiências e conhecimentos, e irão capacitar profissionais e gestores pernambucanos em todas as regiões do Estado. O projeto foi dividido em três módulos que ocorrem paralelamente: diagnóstico, intervenção e monitoramento. No momento, as equipes estão realizando o diagnóstico da rede de saúde obstétrica e da demanda e oferta da linha de cuidado da prevenção do câncer de colo de útero no Estado, para aumentar o impacto e a efetividade das intervenções.