A Secretaria Estadual de Saúde (SES) esteve representada no evento pelas secretárias executivas de Atenção à Saúde, Cristina Mota, e de Coordenação Geral, Ana Cláudia Callou.
 
Quando se avalia a atenção ambulatorial no país, o diagnóstico recorrente é de que esta atenção se configura um gargalo do Sistema Único de Saúde (SUS) pela insuficiência de oferta, frequentemente chamada de “vazio assistencial da média complexidade”. Mas quando a decisão é melhorar o atendimento especializado de saúde, outros tantos desafios estão postos, assim como alternativas de soluções que estão dando certo em diversos estados e municípios brasileiros.
 
Imagine um Centro de Especialidades para onde as pessoas portadoras de doenças crônicas são encaminhadas, após a estratificação de risco feita pela Atenção Primária à Saúde (APS), para que tenham sua situação avaliada por uma equipe multiprofissional.
 
Após a avaliação, essas pessoas, hipertensas e diabéticas, por exemplo, com um plano de cuidado traçado pela equipe de saúde, voltam a ser acompanhadas pela APS. Neste modelo, o especialista e o generalista se comunicam rotineiramente, seja por telefone ou mensagens de WhatsApp, tratando conjuntamente destes cidadãos.
 
Agora, imagine que estes mesmos doentes crônicos se consultem com o cardiologista ou endocrinologista, graças a vagas ofertadas pela central de regulação. E que, quando precisarem novamente de uma consulta, provavelmente ela não será com o mesmo profissional médico. Com uma receita ou pedido de exame nas mãos, esses usuários, mais uma vez, entrarão na fila, seja para se consultar com outro especialista, para pegar um medicamento ou para realizar algum exame.
 
Mas, de acordo com o especialista em Planejamento de Sistema de Saúde e coordenador Técnico do Conass Debate, Eugênio Vilaça, não é o “vazio assistencial” o principal problema da Atenção Especializada no Brasil, mas o vazio cognitivo, ou seja, o desconhecimento de práticas que comprovam a possibilidade de um atendimento diferenciado aos que necessitam do especialista.
 
“Mesmo havendo carência na oferta de algumas especialidades, experiências demonstram que os ‘vazios’ podem ser superados com novas formas de organização das relações entre a Atenção Primária à Saúde e a Atenção Especializada sem aumentar, necessariamente, a oferta de serviços”, argumenta. Autor de três livros que tratam da Atenção Primária à Saúde, das Redes de Atenção à Saúde e das Condições Crônicas, Vilaça, esclarece que a APS, quando organizada adequadamente, pode acolher 75% dos portadores de doenças crônicas.
 
“Com a devida organização, a APS faz a estratificação de risco do paciente e, se necessário, ele será encaminhado para um Centro de Especialidades onde não terá apenas uma consulta médica, mas uma avaliação interdisciplinar. Esse modelo é muito diferente do atendimento especializado prevalecente nos dias de hoje, em que o cidadão procura o médico para se consultar e fazer exames”, explica.